segunda-feira, 16 de maio de 2011

Malandro


“Malandro: personagem do texto, sujeito/objeto de inúmeras letras do samba urbano, particularmente nesta Cidade do Rio de Janeiro. (MATOS, 1982).

Lenço no Pescoço - Wilson Batista

Meu chapéu do lado

Tamanco arrastando
Lenço no pescoço
Navalha no bolso
Eu passo gingando
Provoco e desafio
Eu tenho orgulho
Em ser tão vadio


Sei que eles falam
Deste meu proceder
Eu vejo quem trabalha
Andar no miserê
Eu sou vadio
Porque tive inclinação
Eu me lembro, era criança
Tirava samba-canção
Comigo não
Eu quero ver quem tem razão


         Por que preferir ser um vadio em vez de trabalhador? Para entendermos o motivo pelo qual surgiu a malandragem precisamos lembrar-nos do momento da abolição da escravatura em 1888. Nesse período o trabalho era visto como uma atividade voltada para os escravos e mesmo depois da abolição essa visão continuou-se mantendo, pois não existiam leis trabalhistas para fazer do trabalho uma atividade recompensadora.

         Nos anos de 1920, pouco mais de trinta anos depois da abolição, andava “no miserê” aquele que trabalhava e ser um malandro com seu jeito esperto e escrevendo samba era melhor. Dessa maneira, o malandro foi tomando espaço nas letras de muitos sambas e essas músicas faziam, segundo Matos (1982), “uso de uma linguagem de caracteres específicos”, ou seja, apresentavam as características do modo de falar e também do próprio malandro.

         Mas a presença do malandro na musica popular, a qual teve nos anos 30, 40 e 50 bastante prestigio, foi perdendo espaço quando Getúlio Vargas, no momento do Estado Novo, instaurou a Consolidação das Leis Trabalhistas no Brasil, aumentando sua popularidade e o prestigio do trabalho. Vargas criou o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), o qual fiscalizou as gravações musicais brasileiras. O DIP serviu de censura contra as canções que demonstravam preferência pela malandragem e de incentivo, com uso de moeda, às gravações que glorificavam o trabalho como sendo uma atividade de honra. Um exemplo dessa censura está no famoso samba de Ataulfo Alves e Wilson Batista "O Bonde São Januário", de 1940. A letra diz "Quem trabalha é que tem razão/ Eu digo e não tenho medo de errar/ O bonde São Januário/ Leva mais um operário/ Sou eu que vou trabalhar (...)". O que aconteceu foi que o termo operário substitui a palavra original otário para driblar a censura.