quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Marcha contra a guitarra - Tropicalismo


No final dos anos sessenta, havia uma divergência em relação à influência estrangeira. Para a ala mais conservadora, o instrumento representava a invasão da cultura pop estrangeira. Para outros, era uma necessidade de incorporar novas tendências musicais. Alguns como Caetano Veloso e Gilberto Gil o fizeram de maneira crítica, ou de maneira antropofágica, como propunha Oswald de Andrade, isto é, devorando o elemento estrangeiro e produzindo uma música brasileira para exportação. "Ao trazerem as guitarras, Gil e Caetano rompem com a MPB tradicional", conta Renato Terra. Para ele, é quando surge a semente do Tropicalismo. A indisposição à guitarra chegou a provocar uma marcha de protesto contra o instrumento, surpreendentemente acompanhada, inclusive, por Gilberto Gil. "Hoje, reconheço que foi ridículo", admite Sérgio Cabral, que participou do manifesto. Há também histórias pouco conhecidas, como a "amarelada" de Gil, pouco antes da grande final. "Estava agoniado, não queria competir, não é da minha natureza", explica. O músico foi resgatado no hotel duas horas antes do início do programa.



Uma Noite em 67 faz um merecido resgate do ápice de uma época, entre 1965 e 1972, que ficou conhecida como a Era dos Festivais, organizados pelas TVs Record, Excelsior, Globo e TV Rio em forma de programas de auditório. Um recorte rápido e limitado, mas a iniciativa é louvável, sobretudo em um País tão carente de memória acerca de sua história cultural. A tal passeata contra a guitarra elétrica se revela hoje um movimento infantil, bobalhão, como sugerem Caetano e o próprio Gil no documentário. Até mesmo “idiota”, como diz o jornalista Sérgio Cabral, jurado no Festival da Record de 1967. Resgatar essa história, no entanto, revela muita coisa sobre a música brasileira.


O iê-iê-iê



O programa Jovem Guarda estreou em 1965, apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. O programa de tevê acabou gerando o movimento com o mesmo nome, onde os jovens tiveram pela primeira vez um espaço, permitindo-lhes uma identidade própria, pois foi a primeira vez que se era dedicada aos adolescentes uma parte do cenário cultural.



Além dos discos e dos programas de televisão, Roberto, Erasmo e Wanderléa atuaram em filmes de aventura como Roberto Carlos em ritmo de aventura e O diamante cor-de-rosa, que popularizavam ainda mais esses novos ídolos com suas roupas extravagantes e as suas músicas, que invariavelmente tratavam de temas lírico-amorosos e eram fortemente influenciadas por grupos estrangeiros como os Beatles.




A canção de protesto

Uma das formas de reação à americanização da música popular brasileira foi a canção de protesto, nascida da crise política decorrente da renúncia de Jânio Quadro e do desgoverno de João Goulart. A elevadíssima inflação desse período agravou os desequilíbrios de nossa sociedade e criou ambiente para que agitadores do todo o gênero buscassem a derrubada do sistema democrático brasileiro.

Depois de depor o presidente João Goulart, "convencer" o Congresso a eleger o general Castelo Branco, aumentar o poder do executivo e desmantelar os possíveis focos de resistência ao golpe - como movimentos estudantis e partidos políticos identificados como o comunismo - o governo militar resolve atacar no front econômico.

A música política representou muitas das ideias que reuniram os estudantes universitários nas manifestações, buscando ser um instrumento de resistência ao regime autoritário. Como um dos veículos de propaganda mais eficazes é a música, sobretudo quando ela se divulga pelo rádio e televisão.





Anos Sessenta - Os Festivais




Os festivais inicialmente surgiram através da cobertura da extinta TV Excelsior paulista. Os grandes festivais tiveram prosseguimento com a produção da TV Record em seu período de auge de audiência. Mas a TV Record, após incêndios danosos em suas instalações, não puderam prosseguir com produções do mesmo nível, gerando inclusive sinais de grande crise nos festivais, que foram, nas suas últimas versões, produzidos pela antiga TV Rio. De 1966 a 1972 aconteceu no Rio de Janeiro o Festival Internacional da Canção (FIC) que aconteciam em duas fases: a nacional e a internacional cujo vencedor levava o Galo de Ouro.



Milagre Brasileiro


Na área econômica o país crescia rapidamente no período que vai de 1969 a 1973. O PIB brasileiro crescia a uma taxa de quase 12% ao ano, enquanto a inflação beirava os 18%.

Com investimentos internos e empréstimos do exterior, o país avançou e estruturou uma base de infraestrutura. Todos estes investimentos geraram milhões de empregos pelo país. Algumas obras, consideradas faraônicas, foram executadas, como a Rodovia Transamazônica e a Ponte Rio-Niteroi.



Porém, todo esse crescimento teve um custo altíssimo e a conta deveria ser paga no futuro. Os empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa elevada para os padrões econômicos do Brasil.


Os anos de chumbo





Em 1969, a Junta Militar escolhe o novo presidente: o general Emílio Garrastazu Medici. Seu governo é considerado o mais duro e repressivo do período, conhecido como "anos de chumbo". 

A repressão à luta armada cresce e uma severa política de censura é colocada em execução. Jornais, revistas, livros, peças de teatro, filmes, músicas e outras formas de expressão artística são censuradas. Muitos professores, políticos, músicos, artistas e escritores são investigados, presos, torturados ou exilados do país. O DOI-Codi (Destacamento de Operações e Informações e ao Centro de Operações de Defesa Interna ) atua como centro de investigação e repressão do governo militar.






O Ato Institucional número 5




O período militar começou com emissão dos atos institucionais, os quais decretavam novas leis que concediam poderes importantes aos presidentes. O Ato Institucional número 5 foi o quinto decreto emitido pelo governo militar brasileiro e é considerado o mais duro golpe na democracia, porque deu poderes quase absolutos ao regime militar. Determinações mais importantes do AI 5:

- Concedia poder ao Presidente da República para dar recesso a Câmara dos Deputados, Assembléias Legislativas (estaduais) e Câmara de vereadores (Municipais);

- Concedia poder ao Presidente da República para intervir nos estados e municípios, sem respeitar as limitações constitucionais;

- Concedia poder ao Presidente da República para suspender os direitos políticos, pelo período de 10 anos, de qualquer cidadão brasileiro;

- Concedia poder ao Presidente da República para dar recesso a Câmara dos Deputados, Assembléias Legislativas (estaduais) e Câmara de vereadores (Municipais);

- Concedia poder ao Presidente da República para intervir nos estados e municípios, sem respeitar as limitações constitucionais;

- Concedia poder ao Presidente da República para suspender os direitos políticos, pelo período de 10 anos, de qualquer cidadão brasileiro;




DITADURA MILITAR (1964 a 1985) - Golpe de 64


A crise política se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961. O vice de Jânio era João Goulart, que assumiu a presidência num clima político adverso. O governo de João Goulart (1961-1964) foi marcado pela abertura às organizações sociais, compostas por estudantes, organizações populares e trabalhadores, que ganharam espaço, causando a preocupação das classes conservadoras como, por exemplo, os empresários, banqueiros, Igreja Católica, militares e classe média (aquela se formou no período dos Anos Dourados). Todos temiam uma guinada do Brasil para o lado socialista. Vale lembrar, que neste período, o mundo vivia o auge da Guerra Fria.

Este estilo populista e de esquerda, chegou a gerar até mesmo preocupação nos EUA, que junto com as classes conservadoras brasileiras, temiam um golpe comunista. No dia 13 de março, João Goulart realizou um grande comício no Rio de Janeiro, onde defendeu as Reformas de Base prometendo mudanças radicais na estrutura agrária, econômica e educacional do país.

No mesmo mês, de um lado, manifestações de apoio popular e comícios a favor das reformas levaram milhares às ruas para expressar apoio ao presidente. De outro lado, os conservadores organizaram uma manifestação contra as intenções de João Goulart, foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reuniu milhares de pessoas pelas ruas do centro da cidade de São Paulo o que evidenciou a articulação deste grupo aliado aos militares para afastar Jango do poder.

Os militares chamaram o golpe de revolução e o justificou afirmando que Goulart estava transformando o Brasil em um país comunista, principalmente porque ele prometia implantar um conjunto de mudanças que incluía a reforma agrária.

Depois de entregar um manifesto exigindo a renúncia de Goulart, as tropas militares ocuparam partidos políticos, sindicatos e quem mais apoiasse as reformas. A sede da UNE (União Nacional dos Estudantes) foi incendiada. Sem poder de reação, o presidente se refugiou em Porto Alegre, sua terra natal, onde ficou até o dia 2 de abril. Ele então se exilou no Uruguai.

Os presidentes do período Militar foram: Castello Branco (1964 – 1967); Costa e Silva (1967 – 1969); Emílio Médici (1969-1974); Ernesto Geisel (1974 – 1979); João Figueiredo (1979 – 1985).

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Bossa Nova



     Com todo o desenvolvimento do Brasil nesse período dos Anos Dourados, surge na sociedade brasileira uma nova classe social econômica, uma classe média alta com maior poder aquisitivo, morando em prédios de apartamentos em bairros como Ipanema e Copacabana e com filhos na universidade..


     Esta nova classe social buscará criar um novo tipo de música, mais sofisticada que os boleros e samba-canções que dominaram o cenário até então. Esse novo gênero foi denominado de Bossa Nova com o objetivo de se diferenciar daquele samba mais tradicional, caracterizado por ser um gênero puramente nacional, o qual não tinha influências culturais estrangeiras.
     O propósito desta nova raiz do samba, segundo Naves (2000), era de “defender uma postura internacionalista e moderna na música popular, em contraposição aos ideólogos do 'nacional-popular'”.



     Os autores da Bossa “são unânimes em atribuir a João Gilberto uma postura que valoriza a contenção, contrária ao emocionalismo excessivo da música popular das décadas de 40 e 50” além de trazer para a MPB “manifestações estéticas dos anos 50, como a poesia concreta e a arquitetura de Oscar Niemeyer”.



     A Bossa Nova se apropria de técnicas do cool Jazz americano e da música clássica, num gesto de devoração antropofágica, como propunha Oswald de Andrade, tendo como resultado um estilo que mescla o elemento estrangeiro com a tradição da música popular brasileira e produz uma música para exportação.
     Outra característica peculiar da Bossa é a maneira de cantar baixinho, com clareza e calma, a razão disto é pelo fato de que a juventude bossa novista morava em apartamentos no Rio de Janeiro, onde não se podia cantar muito alto e, além do mais, cantar em um tom menor e mais coloquial se contrapunha ao estilo operístico e grandiloquente dos grandes intérpretes do período anterior.
     Nas cancões de João Gilberto, “Samba de uma nota só” e “Desafinado,” encontramos manifestações estéticas da poesia concreta. Na primeira o autor começa cantando somente em uma nota musical até que em um determinado momento o cantor anuncia a substituição desta nota por outra e paralelamente o que é dito acontece na plano musical. Na segunda, acontece da mesma forma, quando, num momento exato, João Gilberto pronuncia a silaba tônica da palavra “desafinado” e ocorre no plano da música uma nota fora dos padrões harmônicos da convencional.
     De acordo com Naves (2000),
Outro procedimento que caracteriza as duas composições, colocando-as em correspondência com o tipo de sensibilidade da poesia concreta é a maneira cool de se lidar com a temática amorosa. Em “desafinado”, por exemplo, a pretexto de uma arenga sentimental, discute-se, na verdade, uma questão estética (p.36).




quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Os Anos Dourados

1950 a 1964

      Já em seu segundo governo, Getúlio Vargas (1951-1954), dá continuidade ao seu governo desenvolvimentista. Neste governo Vargas criou o Programa de Industrialização do país, o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) para financiar o programa. Procurou uma aproximação maior com os trabalhadores, inclusive concedendo aumentos salariais da ordem de 100%. Aumentou o salário mínimo em mais de 300% e consequentemente sua popularidade. Reequipou as ferrovias, construiu 600 quilômetros de rodovias por ano, aumentou em 60% a produção de energia e limitou a remessa de lucro para o exterior das empresas estrangeiras. Desenvolveu também uma política econômica nacionalista, marcada pela criação da PETROBRÁS em 1953.

          Ao final de seu segundo governo, o Brasil conclui um período de grande mudança implementada pelo Estado. O país atravessa do mundo Rural para o mundo Urbano. A urbanização cresceu de forma acelerada, facilitando a expansão desordenada das cidades. As repercussões da vida do país foi a emergência do populismo como recurso de poder e a incorporação de toda a população alfabetizada, maior de 18 anos, ao processo político, intensificando o processo de modernização política e econômica.

       Seu estilo populista o levou à queda em 1954, quando homens de sua guarda pessoal contrataram pistoleiros para eliminar o jornalista da oposição, Carlos Lacerda, e estes mataram por engano um major da Aeronáutica. Muito atacado pelos opositores, perdeu apoio das Forças Armadas, com isso suicidou-se com dois tiros no peito.

          Em 1956 a 1961, inicia o governo de Juscelino Kubitschek:





terça-feira, 26 de julho de 2011

A política dos EUA da boa vizinhança

¡Saludos amigos!




          A Política da Boa Vizinhança consistiu numa aproximação dos Estados Unidos com a América Latina. Ela foi praticada em diversas frentes, sendo fundamentais para isso o cinema e o rádio. Em meados de 1942, o Estados Unidos precisava de aliados. Para aproximar os brasileiros da realidade americana uma equipe de Walt Disney, em uma turnê pela América Latina, que fazia parte dos esforços dos Estados Unidos para reunir aliados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), veio ao Brasil e se hospedou no Rio de Janeiro.


          Dessa forma, analisando os estereótipos do Rio de Janeiro, foi criado o primeiro personagem brasileiro da Walt Disney, o papagaio José Carioca, o qual retrata o típico malandro carioca sempre escapando dos problemas com um “jeitinho” característico. Por outro lado, a cantora luso-brasileira Carmem Miranda conseguiu projetar o samba internacionalmente a partir do cinema.

          Os primeiros filmes longa-metragem da Disney foram sobre o Brasil: ¡Saludos amigos! (1942) e Los Tres Caballeros (1944).

 Los Tres Caballeros



A Rádio Nacional e o Samba-Exaltação

          A partir da década de 30, a popularização do rádio no Brasil ajudou a difundir o samba por todo o país.


       A Radio Nacional, inaugurada em 1636 por Getúlio Vargas, viria por meio de suas ondas curtas abranger todo o território nacional e tinha a função de unir todo o Brasil e mantê-lo unido, além de trazer para quase todos os lares as últimas notícias, moldando a opinião pública, vendendo produtos, lançando modas.

      O governo nacionalista escolheu o samba como sendo a musica nacional. Dessa forma surge nesse contexto o Samba-Exaltação, que exaltava as grandes belezas naturais brasileiras.
      O Samba-Exaltação foi caracterizado por composições de melodia extensa e versos patrióticos. A canção “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso, de 1939, foi o carro-chefe do Samba-Exaltação e é, até hoje, uma das canções que mais identifica o Brasil no exterior.


“Brasil!

Meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
O Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
O Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Pra mim! Pra mim, pra mim...”


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Malandro


“Malandro: personagem do texto, sujeito/objeto de inúmeras letras do samba urbano, particularmente nesta Cidade do Rio de Janeiro. (MATOS, 1982).

Lenço no Pescoço - Wilson Batista

Meu chapéu do lado

Tamanco arrastando
Lenço no pescoço
Navalha no bolso
Eu passo gingando
Provoco e desafio
Eu tenho orgulho
Em ser tão vadio


Sei que eles falam
Deste meu proceder
Eu vejo quem trabalha
Andar no miserê
Eu sou vadio
Porque tive inclinação
Eu me lembro, era criança
Tirava samba-canção
Comigo não
Eu quero ver quem tem razão


         Por que preferir ser um vadio em vez de trabalhador? Para entendermos o motivo pelo qual surgiu a malandragem precisamos lembrar-nos do momento da abolição da escravatura em 1888. Nesse período o trabalho era visto como uma atividade voltada para os escravos e mesmo depois da abolição essa visão continuou-se mantendo, pois não existiam leis trabalhistas para fazer do trabalho uma atividade recompensadora.

         Nos anos de 1920, pouco mais de trinta anos depois da abolição, andava “no miserê” aquele que trabalhava e ser um malandro com seu jeito esperto e escrevendo samba era melhor. Dessa maneira, o malandro foi tomando espaço nas letras de muitos sambas e essas músicas faziam, segundo Matos (1982), “uso de uma linguagem de caracteres específicos”, ou seja, apresentavam as características do modo de falar e também do próprio malandro.

         Mas a presença do malandro na musica popular, a qual teve nos anos 30, 40 e 50 bastante prestigio, foi perdendo espaço quando Getúlio Vargas, no momento do Estado Novo, instaurou a Consolidação das Leis Trabalhistas no Brasil, aumentando sua popularidade e o prestigio do trabalho. Vargas criou o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), o qual fiscalizou as gravações musicais brasileiras. O DIP serviu de censura contra as canções que demonstravam preferência pela malandragem e de incentivo, com uso de moeda, às gravações que glorificavam o trabalho como sendo uma atividade de honra. Um exemplo dessa censura está no famoso samba de Ataulfo Alves e Wilson Batista "O Bonde São Januário", de 1940. A letra diz "Quem trabalha é que tem razão/ Eu digo e não tenho medo de errar/ O bonde São Januário/ Leva mais um operário/ Sou eu que vou trabalhar (...)". O que aconteceu foi que o termo operário substitui a palavra original otário para driblar a censura.


sexta-feira, 15 de abril de 2011

O duelo entre Noel Rosa e Wilson Batista

     


Foi um combate musical que teve inicio em 1933, quando o compositor Wilson Batista lançou o samba “Lenço no Pescoço”, no qual proclamava seu orgulho em ser vadio e associava a imagem do sambista a malandragem.


     O compositor Noel Rosa sentiu-se incomodado com a associação e mandou logo uma resposta bem direta, compondo “Rapaz Folgado”.


     Wilson Batista sentiu-se ofendido pelo golpe inesperado e reagiu com o samba “Mocinho da Vila”:
“Se não quiser perder o nome
Cuide de seu microfone
E deixe quem é malandro em paz...”

     A elegante resposta de Noel Rosa veio com o “Feitiço da Vila”, parceria com o pianista Vadico.
"Lá, em Vila Isabel,
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba.
São Paulo dá café,
Minas dá leite,
E a Vila Isabel dá samba."

Wilson Batista volta ao ataque com “Conversa Fiada”.

"É conversa fiada dizerem que o samba na Vila tem feitiço
Eu fui ver para crer e não vi nada disso
A Vila é tranqüila porém eu vos digo: cuidado!
Antes de irem dormir dêm duas voltas no cadeado"

     Mas mexer com a querida Vila Isabel de Noel Rosa foi o erro fatal, pois isso acabou sendo responsável pela composição de uma de uma das maiores obras primas do nosso samba, “Palpite Infeliz”.
"Quem é você que não sabe o que diz?
Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!
Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira,
Oswaldo Cruz e Matriz
Que sempre souberam muito bem
Que a Vila Não quer abafar ninguém,
Só quer mostrar que faz samba também"

     Wilson Batista compõe “Frankenstein da Vila”,mas, apesar da violência da resposta, confessou-se arrependido por ter se aproveitado da feiura de Noel Rosa (trata-se de uma má formação no maxilar devido ao parto).

     A disputa ainda rendeu algumas algumas réplicas como “João ninguém” de Noel Rosa e “Terra de cego” de Wilson Batista, mas o duelo já dava mostras de não possuir mais a mesma intensidade de antes. Os dois compositores já estavam virando amigos.

     Pouco tempo depois, em 1937, morreu o jovem Noel Rosa, aos 26 anos, mas não sem antes compor junto com o amigo rival. Com certeza, quem mais saiu ganhando nesse duelo foi a Musica Popular Brasileira.



quarta-feira, 13 de abril de 2011

O primeiro samba a ser gravado


O samba “Pelo telefone”(de Donga e Mauro de Almeida), estrou para a história da Musica Popular Brasileira como o primeiro a ser gravado em 1917.

No entanto, a canção sua tem autoria discutida, pois vários compositores reivindicaram sua autoria. Um deles foi José Barbosa da Silva, ou Sinhô, compositor intitulado como “o rei do samba”, que não perdia nenhuma roda de samba na casa da baiana Tia Ciata, onde encontrava os também sambistas Germano Lopes da Silva, João da Mata, Hilário Jovino Ferreira e Donga. Sinhô ficou surpreso quando Donga, em 1917, registrou como sendo dele o samba carnavalesco.

Sinhô compôs, em 1918, o samba “Quem são eles” numa clara provocação aos parceiros de “Pelo Telefone”, mas acabou levando o troco, foram compostas “Fica Calmo que Aparece”, de Donga, “Não és tão falado assim” de Hilário Jovino Ferreira, “Já Te Gigo” de Pixinguinha e seu irmão China, que traçarem um perfil nada elegante: (“ Ele é alto e feio/ e desdentado/ ele fala do mundo inteiro/ e já está avacalhado...”). Sinhô pagou a ambos com a marchinha “O pé de Anjo”.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Origem do Samba



      O samba surgiu da mistura de gêneros musicais como a modinha, o chorinho e danças como o lundu, a umbigada, que chegaram ao Brasil, quando ainda era colonia, trazidas pelos escravos africanos. Segundo alguns, palavra “samba” seria um verbo conguês (língua ancestral originária do Congo) da 2ª conjugação, que significa adorar, invocar, implorar, queixar-se, rezar. Mas há também a hipótese de ter origem na palavra “Semba”, que no idioma Bantu, significaria “umbigo”, de onde teria vindo a dança da umbigada.

      Diz-se que o samba teria se originado na Bahia, mas na segunda metade do século XIX negros baianos migraram para o Rio de Janeiro, que na época era a capital do império. Dessa forma o samba entrou em contato e incorporou outros gêneros musicais urbanos como a polca, o maxixe, o xote, entre outros e se tornou um gênero musical dançado ao som de violão e cavaquinha em rodas de samba nas casas das “tias baianas”.

      No início do século XX, segundo o folclore da época, para que um samba alcançasse sucesso, ele teria que passar pela casa da Tia Ciata e ser aprovado nas rodas de samba das festas que chegavam durar dias. Muito sambas foram criados e cantados em improvisos como é o caso do samba “Pelo telefone”, o qual foi o primeiro a ser gravado na história da musica popular brasileira.






segunda-feira, 4 de abril de 2011

Curso: História, cultura e poesia através das letras da Música Popular Brasileira

Coordenador: Prof. Dr. Sérgio Roberto Massagli
Alunos bolsistas e voluntários: Ivan Lucas, Eline e Suane.
Carga Horária: 32 horas
Período de realização das oficinas: 16/04, 11/06, 17/09 e 05/11
Público alvo: estudantes do ensino médio, estudantes de graduação e a comunidade em geral.

O curso

Partindo da idéia de que a música e a poesia foram inseparáveis desde a Antiguidade, pretende-se utilizar essa proximidade para fazer notar que a união entre música e poesia, também no ensino de literatura, pode ser extremamente frutífera. Desde o momento em que a letra deixou de ser mero coadjuvante em relação à melodia (o que se deu com maior ênfase a partir da década de 60), a música popular brasileira não é mais um fenômeno apenas sonoro, mas também um produto com dimensões da escrita poética e da cultura em geral. Este curso pretende apresentar aos alunos um panorama das tendências da música popular brasileira, a partir das linhas gerais da formação do samba no Brasil, passando pelo salto de qualidade representado pela Bossa Nova, para em seguida focalizar, no período dos anos 60, as canções de protesto e a crítica política e social. O objetivo principal é promover o interesse por temas da cultura brasileira, através da leitura crítica das letras da Música Popular Brasileira.

Objetivos
  1. Conhecer algumas das principais tendências da música popular brasileira neste século, enfatizando as alternativas desenhadas nos anos da ditadura militar (1964-1984);
  2. Estudar questões permanentes e relevantes da história brasileira a partir do código musical;
  3. Orientar os alunos no campo da análise e interpretação das músicas como documentos para a história da cultura;
  4. Aprimorar, através do jogo de sons e do jogo de palavra, a habilidade da leitura crítica;
  5. Promover o interesse por temas da cultura brasileira.

Conteúdo programático

  1. Apresentação do programa do curso; panorama das tendências atuais da música popular brasileira; reconhecimento da diversidade de sons; linhas gerais da formação do samba no Brasil; o samba negro que vem dos morros do Rio de Janeiro em fins da República Velha; os conteúdos nacionalistas do samba em tempos do Estado Novo (1937-1945); as variações do samba brasileiro: samba-canção, samba-breque, samba-enredo, etc.;
  2. A Bossa Nova: nas fronteiras entre o erudito e o popular ou “uma saída para o samba que havia parado, era quadrado e só falava em barracão”; “50 anos em 5”: Juscelino Kubitschek e a industrialização da economia brasileira; os limites da modernidade populista;
  3. Cultura e Política nos anos 60; a formação dos Centros Populares de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE) e a defesa de uma cultura popular, democrática e nacionalista visando “conscientizar” as camadas populares; Músicas de “Protesto”: temática rural e urbana; O golpe militar de 1964 e os desdobramentos da ditadura militar, enfocando a questão da censura à produção artística, sobretudo após o AI5 (1968);
  4. Jovem Guarda: alienação individualista?; indústria cultural e sociedade de consumo; a Tropicália: retomada da proposta de antropofagia cultural do modernismo?; o “lugar das idéias” e a formação de uma identidade nacional.
  5. Aspectos da produção musical de Chico Buarque: do lirismo ao protesto e à crítica política e social; uma reflexão sobre a MPB.
Bibliografia básica
CAMPOS, Augusto de. Balanço da bossa e outras bossas. 3ª Ed. São Paulo, Perspectiva, 1978.
CONTIER, Arnaldo Daraya. Edu Lobo e Carlos Lyra: O Nacional e o Popular na Canção de Protesto (Os Anos 60). Rev. bras. Hist.,  São Paulo,  v. 18,  n. 35,   1998 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01881998000100002&lng=en&nrm=iso>. Accesso em  26  Jan.  2011.
FAVARETTO, Celso. Tropicália: Alegoria Alegria. São Paulo, Kairós, 1979.
GALVÃO, Walnice Nogueira. Saco de gatos. São Paulo, Duas Cidades, 1976.
HOLANDA, Heloísa Buarque de. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde 60/70. São Paulo, Brasiliense, 1980.
MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Carnaval, carnavais. São Paulo, Ática, 1986.
MELLO, José Eduardo Homem de. Música Popular Brasileira. São Paulo, Edusp, 1976.
RODRIGUES, Ana Maria. Samba negro, espoliação branca. São Paulo, Hucitec, 1984.


Arte do blog: Patrícia dos Santos (Arte antiga). Ivan Lucas Faust (Arte atual)