O lundu, ou lundum, é um gênero musical contemporâneo e uma dança brasileira de natureza híbrida, criada a partir dos batuques dos escravos bantos trazidos ao Brasil de Angola e de ritmos portugueses. Da África, o lundu herdou a base rítmica, uma certa malemolência e seu aspecto lascivo, evidenciado pela umbigada, os rebolados e outros gestos que imitam o ato sexual. Da Europa, o lundu, que é considerado por muitos o primeiro ritmo afro-brasileiro, aproveitou características de danças ibéricas, como o estalar dos dedos, e a melodia e a harmonia, além do acompanhamento instrumental do bandolim.
O lundu veio para o Brasil com os negros de Angola, por duas vias, passando por Portugal, ou diretamente da Angola para o Brasil. Em Portugal recebeu polimentos da corte, como o uso dos instrumentos de corda, mas fora proibida por D. Manuel ao ser “contrária aos bons costumes”. Já a vinda direta da Angola para o Brasil recuperou o acento jocoso, mordaz e sensual que incomodara a sociedade lisbonense.
Aparece
no Brasil no século XVIII como uma dança sem cantoria e de
"natureza licenciosa", para os padrões da época. Nos
finais do século XVIII, presente tanto no Brasil como em Portugal, o
lundu evolui como uma forma de canção urbana, acompanhada de
versos, na maior parte das vezes de cunho humorístico e lascivo,
tornando-se uma popular dança de salão.
Durante
todo o século XIX, o lundu é uma forma musical dominante, e o
primeiro ritmo africano a ser aceito pelos brancos. Neste período,
surgem os mais importantes compositores que representam esta forma
musical e a viola é adotada entre os instrumentos de corda
utilizados.
O
lundu sai de evidência no início do século XX, mas deixa seu
legado, principalmente no que tange ao ritmo sincopado, no maxixe
(outro forma musical híbrida urbana que também deve suas origens à
polca e à habanera). Musicólogos defendem que no lundu, como o
primeiro ritmo afro-brasileiro em formato de canção e fruto de um
sincretismo, está a origem do samba, via o maxixe, mas há
controvérsias quanto a esse ponto. Uma modalidade do lundu, a dança
de roda, ainda é praticada na Ilha de Marajó e nos arredores de
Belém, no estado do Pará, recentemente grupos culturais do entorno
do DF (região limítrofe do DF e de Goiás) reiniciaram essa
prática.
O
lundu na suas origens tinha sistemática simples, a qual ainda
podemos observar na dança de roda, sua familiaridade (músicos
iniciam o ritmo Lundu, as pessoas que querem dançar aproximam-se, já
entrando na dança, um sinal da viola é emitido e a primeira
dançadora abre espaço no centro da roda que logo se forma com o
grupo); Forma-se a roda e ela fica no centro dançando até convidar
alguém para substituí-la (o convite pode ser uma batida de pé
diante da pessoa, palmas diante da pessoa, uma umbigada ou um toque
de ombros à esquerda e em seguida outro à direita); A dançadora
convidada vai para o centro dançar (dança no centro até escolher
quem vai substituí-la, pode ser uma mulher ou um homem e as
substituições continuam por várias vezes).
Quando
está no meio da roda, o dançador faz evoluções inteiramente
relaxado, braços caídos ao longo do corpo, pernas meio fletidas,
mantendo um sapateio em que a planta do pé bate inteiramente no
chão, ao ritmo da música. A predominância dos dançadores é de
mulheres. Homens em geral ficam apenas olhando ao redor, mas ao serem
convidados vão para o centro dançar. Se ao sair convidam uma
dançadora com umbigada, faz-se grande algazarra no grupo. Não se
registra umbigada de homem em homem, mas entre mulheres há umbigada
indistintamente em outra mulher ou em homem. Em várias documentações
consultada há referência de proibição da umbigada entre parentes
próximos – pai e filha, padrinho e afilhada – Pode-se concluir
que há aí uma representação do ato sexual no movimento.
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