sábado, 26 de maio de 2012

O Samba de Partido Alto

      De acordo com a Enciclopédia da Música Brasileira, "samba de partido-alto é um gênero do samba surgido no início do século XX conciliando formas antigas (o partido-alto baiano, por exemplo) e modernas do samba-sança-batuque, desde os versos improvisados à tendência de estruturação em forma fixa de canção, e que era cultivado inicialmente apenas por velhos conhecedores dos segredos do samba-dança mais antigo, o que explica o próprio nome do partido-alto (equivalente da expressão moderna "alto-gabarito"). Inicialmente caracterizado por longas estrofes ou estâncias de seis e mais versos, apoiados em refrões curtos, o samba de partido-alto ressurge a partir da década de 1940, cultivado pelos moradores dos morros cariocas, mas já agora não incluindo necessariamente a roda de dança e reduzido à improvisação individual, pelos participantes, de quadras cantadas a intervalos de estribilhos geralmente conhecido de todos".[3] 




      O partido-alto na década de 1970 sofreria outras modificações até servir de combustível para o movimento conhecido por pagode de raiz. Antes, pagode era o nome dado no Brasil, pelo menos desde o século XIX, a habituais reuniões festivas, regadas a música, comida e bebida. E nos pagodes, a música tocada era o samba, especialmente a vertente partido-alto. O estilo de partido-alto com versos realmente improvisados vem caindo em desuso, não só pela diminuição de rodas de samba, como pela facilidade de repetir versos pré-elaborados, gravados e difundidos via álbuns, rádio, televisão, entre outros. Não obstante, a tradição se mantém com alguns sambistas absorvidos pela indústria fonográfica, como Zeca Pagodinho, Dudu Nobre e Arlindo Cruz, entre outros. 
      A arte dos versadores de partido-alto foi registrada em alguns trabalhos. O mais famoso deles é o documentário "Partido-Alto", de Leon Hirszman. Este filme foi gravado em 1976 e ancorado no sambista Candeia.





[3] MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira - erudita, folclórica e popular. 1. ed. São Paulo: Arte Editora/Itaú Cultural, 1977

terça-feira, 22 de maio de 2012

O Lundu: uma representação do ato sexual no movimento

      O lundu, ou lundum, é um gênero musical contemporâneo e uma dança brasileira de natureza híbrida, criada a partir dos batuques dos escravos bantos trazidos ao Brasil de Angola e de ritmos portugueses. Da África, o lundu herdou a base rítmica, uma certa malemolência e seu aspecto lascivo, evidenciado pela umbigada, os rebolados e outros gestos que imitam o ato sexual. Da Europa, o lundu, que é considerado por muitos o primeiro ritmo afro-brasileiro, aproveitou características de danças ibéricas, como o estalar dos dedos, e a melodia e a harmonia, além do acompanhamento instrumental do bandolim.
      O lundu veio para o Brasil com os negros de Angola, por duas vias, passando por Portugal, ou diretamente da Angola para o Brasil. Em Portugal recebeu polimentos da corte, como o uso dos instrumentos de corda, mas fora proibida por D. Manuel ao ser “contrária aos bons costumes”. Já a vinda direta da Angola para o Brasil recuperou o acento jocoso, mordaz e sensual que incomodara a sociedade lisbonense.



      Aparece no Brasil no século XVIII como uma dança sem cantoria e de "natureza licenciosa", para os padrões da época. Nos finais do século XVIII, presente tanto no Brasil como em Portugal, o lundu evolui como uma forma de canção urbana, acompanhada de versos, na maior parte das vezes de cunho humorístico e lascivo, tornando-se uma popular dança de salão.
Durante todo o século XIX, o lundu é uma forma musical dominante, e o primeiro ritmo africano a ser aceito pelos brancos. Neste período, surgem os mais importantes compositores que representam esta forma musical e a viola é adotada entre os instrumentos de corda utilizados.

      O lundu sai de evidência no início do século XX, mas deixa seu legado, principalmente no que tange ao ritmo sincopado, no maxixe (outro forma musical híbrida urbana que também deve suas origens à polca e à habanera). Musicólogos defendem que no lundu, como o primeiro ritmo afro-brasileiro em formato de canção e fruto de um sincretismo, está a origem do samba, via o maxixe, mas há controvérsias quanto a esse ponto. Uma modalidade do lundu, a dança de roda, ainda é praticada na Ilha de Marajó e nos arredores de Belém, no estado do Pará, recentemente grupos culturais do entorno do DF (região limítrofe do DF e de Goiás) reiniciaram essa prática.



      O lundu na suas origens tinha sistemática simples, a qual ainda podemos observar na dança de roda, sua familiaridade (músicos iniciam o ritmo Lundu, as pessoas que querem dançar aproximam-se, já entrando na dança, um sinal da viola é emitido e a primeira dançadora abre espaço no centro da roda que logo se forma com o grupo); Forma-se a roda e ela fica no centro dançando até convidar alguém para substituí-la (o convite pode ser uma batida de pé diante da pessoa, palmas diante da pessoa, uma umbigada ou um toque de ombros à esquerda e em seguida outro à direita); A dançadora convidada vai para o centro dançar (dança no centro até escolher quem vai substituí-la, pode ser uma mulher ou um homem e as substituições continuam por várias vezes).



      Quando está no meio da roda, o dançador faz evoluções inteiramente relaxado, braços caídos ao longo do corpo, pernas meio fletidas, mantendo um sapateio em que a planta do pé bate inteiramente no chão, ao ritmo da música. A predominância dos dançadores é de mulheres. Homens em geral ficam apenas olhando ao redor, mas ao serem convidados vão para o centro dançar. Se ao sair convidam uma dançadora com umbigada, faz-se grande algazarra no grupo. Não se registra umbigada de homem em homem, mas entre mulheres há umbigada indistintamente em outra mulher ou em homem. Em várias documentações consultada há referência de proibição da umbigada entre parentes próximos – pai e filha, padrinho e afilhada – Pode-se concluir que há aí uma representação do ato sexual no movimento.





Maxixe: o “Tango Brasileiro”


      O Maxixe (também conhecido como Tango brasileiro) é um tipo de dança de salão brasileira criada pelos negros que esteve em moda entre o fim do século XIX e o início do século XX. Dançava-se acompanhada da forma musical do mesmo nome, contemporânea da polca e dos princípios do choro e que contou com compositores como Ernesto Nazareth e Patápio Silva. Mas o maior nome na composição de maxixes foi, sem dúvida, o da maestrina Chiquinha Gonzaga.
      Teve a sua origem no Rio de Janeiro na década de 1870, mais ou menos quando o tango também dava os seus primeiros passos na Argentina e no Uruguai, do qual sofreria algumas influências. Dançada a um ritmo rápido de 2/4, notam-se também influências do lundu, das polcas e das habaneras.
     O ritmo, segundo hipótese levantada por alguns estudiosos, foi influenciado pela música trazida por escravos de Moçambique, daí advindo seu nome, que é o nome de uma cidade moçambicana. Ainda hoje, o padrão rítmico da Marrabenta (música moçambicana) guarda semelhanças com os padrões rítmicos do maxixe.



      Hoje, o gênero musical chamado maxixe ou tango brasileiro é considerado um subgênero do choro. Porém, no fim do século XIX e começo do XX, a palavra "choro" designava não um gênero, mas certos conjuntos musicais (compostos de flauta, cavaquinho e violôes) que animavam festas (forrobodós) tocando polcas, lundus, habaneras e mazurcas e outros gêneros estrangeiros de uma maneira sincopada (que acabou sendo nomeado como gênero, o "choro"). O tango Brasileiro foi criado pelos chorões como uma variante altamente sincopada da habanera, gênero cubano que também era chamado tango-habanera (o primeiro uso da palavra "tango" é datado de 1923, em Havana), e que na sua variante brasileira passou a ser chamado tango brasileiro. Na sua forma de música de dança passou a ser chamado de maxixe, que era alvo de fortes preconceitos das elites da época, porque consideravam-no indecente, chegando mesmo a proibi-lo. Dava-se o nome de "Tango Brasileiro" para se esconder a relação com o maxixe dessas composições. Alguns relatos afirmam também uma diferença com relação a harmonia, sendo a do Tango Brasileiro (como os de Ernesto Nazareth) um pouco mais complexa do que de seu "irmão", o Maxixe.
      Na atualidade, o maxixe, enquanto dança, ainda existe nos passos do samba de gafieira, cuja música (que é um tipo de samba extremamente sincopado, por exemplo, o samba de breque e o samba-choro) também preserva muitas estruturas rítmicas do maxixe. Tal como o tango argentino, este estilo foi também exportado para a Europa e Estados Unidos da América, no início do século XX. O samba e a lambada são dois exemplos de danças que devem algumas contribuições de estilo ao Maxixe.





Jongo, o “avô do samba”



      Jongo é uma manifestação cultural de africanos essencialmente rural diretamente associada à cultura africana no Brasil e que influiu poderosamente na formação do samba carioca, em especial, e da cultura popular brasileira como um todo. Segundo os jongueiros, o jongo é o "avô" do samba.
      Inserindo-se no âmbito das chamadas 'danças de umbigada' (sendo portanto aparentada com o 'Semba' ou 'Masemba' de Angola), o Jongo foi trazido para o Brasil por negros bantu, sequestrados para serem vendidos como escravos nos antigos reinos de Ndongo e do Kongo, região compreendida hoje por boa parte do território da República de Angola.
      Composto por música e dança características (jongoo), animadas por poetas que se desafiam por meio da improvisação, ali, no momento, com cantigas ou pontos enigmáticos, o Jongo tem, provavelmente, como uma de suas origens (pelo menos no que diz respeito à estrutura dos pontos cantados) o tradicional jogo de adivinhas angolano, denominado Jinongonongo.
      Apesar de ser uma expressão da religião, mantém como um traço essencial de sua linguagem a presença de símbolos que possuem função supostamente mágica ou sagrada, provocando, segundo se acredita, fenômenos mágicos. Desse modo, o fogo serve para afinar os instrumentos e também para iluminar as almas dos antepassados; os tambores são consagrados e considerados como ancestrais da própria comunidade; a dança em círculos com um casal ao centro remete à fertilidade; sem esquecer, é claro, as ricas metáforas utilizadas pelos jongueiros para compor seus "pontos" e cujo sentido permanece inacessível para os não-jongueiros.
      Dançado e cantado outrora com o acompanhamento de urucungo (arco musical bantu, que originou o atual berimbau), viola e pandeiro, além de três tambores consagrados, utilizados até os nossos dias, chamados de Tambu ou 'Caxambu', o maior - que dá nome a manifestação em algumas regiões - 'Candongueiro', o menor e o tambor de fricção 'Ngoma-puíta' (uma espécie de cuíca muito grande), o Jongo é ainda hoje bastante praticado em diversas cidades de sua região original: o Vale do Paraíba na Região Sudeste do Brasil, ao sul do estado do Rio de Janeiro e ao norte do estado de São Paulo e Região das Minas e das fazendas de Café em Minas Gerais, onde também é chamado "Caxambu".



quinta-feira, 17 de maio de 2012

Diálogos interdisciplinares através das letras da música popular brasileira





1ª. Oficina na Universidade: dia 19/05/2012

Horário: das 8:30h às 12:00h

Inscrições: sergio.massagli@uffs.edu.br  informando os seguintes dados: RG, CPF, Número de telefone, endereço de e-mail e nome completo.

As inscrições também podem ser feitas na hora.

Temas da Primeira Oficina: 

- Do morro ao asfalto, da periferia ao centro: o trajeto do Samba.

- Brasil, meu Brasil brasileiro: ufanismo e exaltação na Era Vargas.

- Ari Barroso e Carmem Miranda: samba made in Brazil.