No final dos anos sessenta, havia uma divergência em relação à influência estrangeira. Para a ala mais conservadora, o instrumento representava a invasão da cultura pop estrangeira. Para outros, era uma necessidade de incorporar novas tendências musicais. Alguns como Caetano Veloso e Gilberto Gil o fizeram de maneira crítica, ou de maneira antropofágica, como propunha Oswald de Andrade, isto é, devorando o elemento estrangeiro e produzindo uma música brasileira para exportação. "Ao trazerem as guitarras, Gil e Caetano rompem com a MPB tradicional", conta Renato Terra. Para ele, é quando surge a semente do Tropicalismo. A indisposição à guitarra chegou a provocar uma marcha de protesto contra o instrumento, surpreendentemente acompanhada, inclusive, por Gilberto Gil. "Hoje, reconheço que foi ridículo", admite Sérgio Cabral, que participou do manifesto. Há também histórias pouco conhecidas, como a "amarelada" de Gil, pouco antes da grande final. "Estava agoniado, não queria competir, não é da minha natureza", explica. O músico foi resgatado no hotel duas horas antes do início do programa.
Uma Noite em 67 faz um merecido resgate do ápice de uma época, entre 1965 e 1972, que ficou conhecida como a Era dos Festivais, organizados pelas TVs Record, Excelsior, Globo e TV Rio em forma de programas de auditório. Um recorte rápido e limitado, mas a iniciativa é louvável, sobretudo em um País tão carente de memória acerca de sua história cultural. A tal passeata contra a guitarra elétrica se revela hoje um movimento infantil, bobalhão, como sugerem Caetano e o próprio Gil no documentário. Até mesmo “idiota”, como diz o jornalista Sérgio Cabral, jurado no Festival da Record de 1967. Resgatar essa história, no entanto, revela muita coisa sobre a música brasileira.
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